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segunda-feira, 11 de julho de 2011

10 anos: Assassinato de Daniel do Indea faz uma década e ainda apresenta muitas incógnitas

Depois deste dia, Tangará da Serra nunca mais foi a mesma

LUCIANA MENOLI / Redação DS
Era 02 de julho de 2011 e sessão ordinária daquele dia na Câmara dos Vereadores de Tangará da Serra começou tranquila, às 19h como sempre e presidida pelo vereador Antônio Lopes Gonçalves, o Toninho Vaca Gorda.  Todavia, quando ia encerrar, às 11h, teve aprovado por unanimidade – inclusive com voto favorável do próprio Daniel – um requerimento do vereador João Damas Neto (Netinho) para que se estendesse até o encerramento da votação dos projetos na ordem do dia.
Ao sair da sessão, Daniel do INDEA, seguiu pela avenida Tancredo Almeida Neves, por volta das 2h50 já do dia 03, para a sua casa, localizada na Vila Goiás, onde recebeu cinco tiros ao parar o veículo em frente ao portão. A esposa de Daniel, a professora Luzia Fátima Leite Silva, chegou a ouvir pelo menos um disparo e ligou para a Polícia Militar que não atendeu a ocorrência, afirmando que a viatura estaria ocupada atendendo a um furto em residência. O corpo de Daniel foi localizado por volta das 5h30, quando amanhecia, por suas esposa e filha. Começava aí um longa e triste história que culminou com a cassação de sete vereadores e do prefeito, prisão de três pessoas e muitos pontos obscuros, que hoje, dez anos depois, ainda não foram esclarecidos.
Daniel foi alvejado por cinco tiros de um revólver calibre 38 que nunca foi encontrado; segundo os executores, a arma foi enterrada, quebrada e, depois, derretida. Em seu cortejo fúnebre, 5 mil pessoas clamavam por justiça, que conforme sua viúva, até hoje não foi feita.
Da data de seu assassinato em diante muitos outros acontecimentos se desenrolaram: no mesmo dia do crime, o primo de Daniel, então vereador Jessé Lopes, segundo apurou o Ministério Público, recebeu parte da propina pela aprovação do projeto de concessão do serviço de água no município. Assunto que seria  principal razão para sua morte, já que Daniel, juntamente com o vereador petista Hélio Márcio, eram os únicos que não aceitaram a propina. Nos dias que se seguiram, outros vereadores também receberam o dinheiro, conforme a denúncia do MP a partir de confissões e registros encontrados em arquivos de uma empresa da cidade.
Enquanto isso, as investigações, em princípio presididas pelo delegado Eduardo César Gomes, passaram para o delegado Sebastião Ribeiro e, depois, para o delegado corregedor Ronan Gomes Villar. Assim que assumiu o caso em setembro, Villar descobriu, através do depoimento de uma pessoa próxima ao primeiro suplente de vereador Luiz Antônio de Oliveira, que o agropecuarista João Roberto Mazotti teria sido procurado para executar o crime. Neste momento o inquérito contava com menos de 200 páginas.
Mazotti contou a Villar que teria apresentado José Adilson dos Santos, que teria pedido a quantia de R$ 30 mil pela morte do vereador Daniel. José Adilson havia sido preso por Villar na semana anterior, por estar na casa com Mazotti, mas havia sido liberado no dia anterior ao depoimento de Mazotti, vindo a fugir da cidade. Na casa de uma cunhada de José Adilson a Polícia encontra um álbum de fotografias onde ele aparece posando ao lado da família de um policial militar conhecido como “Sargento Medeiros”, que a essa altura havia sido transferido de Tangará da Serra para Rondonópolis.
Durante as apurações, a Polícia revelou que o sargento teria recebido de presente, de José Adilson, um carro zero quilômetro. Por coincidência, Medeiros era quem comandava, segundo a Polícia Civil, o atendimento da Polícia Militar na noite em que Daniel do INDEA foi assassinado. Depois disso, o delegado consegue um mandado de prisão para o então vereador Luiz Antônio de Oliveira, o Peba, preso, primeiramente, em flagrante por porte ilegal de duas armas encontradas pela polícia em sua residência.
ELUCIDAÇÃO - Com Peba na cadeia, as peças do quebra-cabeças foram se juntando e Ediley Aparecido da Silva, o ´Dirlei´, e Oclair José Francisco, o ´Dunguinha´, foram apontados como executores, sendo indiciados também o presidente da Câmara, Toninho Vaca Gorda, e a vereadora Ana Casagrande como coautores.
Neste ínterim, os vereadores anularam a concessão do serviço de água e esgoto, cassaram os sete vereadores envolvidos no esquema de propina, Antônio Carlos da Silva, o “Carlinhos” (PFL), Francisco Pereira Filho, o “Tito” (PTB), Hélio José Shwaab, o “Hélio Nazaré” (PL), Jessé Coelho Lopes (PMDB), João Damas Neto, o “Netinho” (PL), Ana Casagrande e Toninho Vaca Gorda (PMDB), além do prefeito Jaime Muraro.
E isso aconteceu já em 2002, onde Vaca Gorda chegou  ser preso e confessou na época que realmente fez parte do esquema de corrupção dos vereadores, ajudando no convencimento e divisão do dinheiro entregue aos parlamentares. Em seu depoimento ele confirmou que ele próprio entregou os envelopes com o dinheiro aos vereadores.
Em seus depoimentos, os executores do homicídio e o suposto mandante (Peba), denunciaram também o esquema da água e confessaram o crime, sendo julgados em 2006 e condenados. Dunguinha, por ter pilotado a moto e levado Dirlei, foi condenado a nove anos de reclusão, Dirlei, autor dos disparos, a 15 anos e meio, e Peba, o mandante, a 16 anos.
MP - Contudo, dois anos depois, a história continuaria na denúncia feita pelo Ministério Público, que acusava mais seis pessoas de participação no crime.  A denúncia foi oferecida pelo MP em 30 de setembro de 2008, pelos promotores Vinicius Gahyva Martins, Reinaldo Rodrigues de Oliveira Filho e Ari Madeira da Costa, que disseram não haver dúvidas de que os acusados têm participação no crime do vereador. “O MP não há dúvidas e tem plena convicção de que todos os acusados participaram do crime. O MP trabalha com fatos”, declarou na época o promotor Ari Madeira.
Este novo processo, aberto com a denúncia do MP há três anos, ainda está em seu rito inicial, ou seja, a citação dos indiciados. De acordo com o promotor Renee do Ó Souza, que hoje responde pela Promotoria Criminal, como são vários os réus, alguns já foram ouvidos e faltam ainda um ou dois.   O processo tramita na Vara Única Criminal de Tangará da Serra. Depois desta fase, ainda acontecem a designação de audiência, o pronunciamento e, após apurados os fatos em juízo, os acusados podem ir a júri. Constam neste novo processo, como acusados de serem autores intelectuais, mandantes e intermediários do crime contra Daniel do Indea, os nomes do ex-prefeito Jaime Luiz Muraro, do empresário Argeu Fogliatto, da ex-vereadora Ana Casagrande, do ex-vereador e presidente da Câmara Antonio Lopes Gonçalves e dos ex-secretários municipais José Cláudio Vanni e Névio Bortoluzzi.
“Para mim, até hoje não houve justiça. Mas não pensem que esquecemos, pois nada do que ocorreu naquele dia foi esclarecido. As pessoas envolvidas eram politicamente fortes na época e o caso foi deixado de lado por muito tempo. Não prenderam todos os culpados e os executores do crime, que foram presos, já estou soltos. Quanto aos políticos e empresários envolvidos, nada aconteceu”, salienta a viúva do vereador assassinado, que pede para que o caso não seja esquecido, “pois a partir dele, Tangará se transformou no que é hoje. Foi lá que começou toda essa ´sujeira´ que hoje está aí. Sofremos as consequências de tudo o que ocorreu há 10 anos até hoje, então, não houve justiça, nada foi resolvido”, finaliza a professora. 

Uma queda brusca para uma trajetória meteórica
Sergio Roberto/ Redação DS - em 27/4/2009 
 

  
O prefeito cassado de Tangará da Serra, Júlio César Ladeia, tem uma trajetória interessante. Iniciou na vida pública em meio a uma turbulência política vivenciada pelo município a partir do assassinato do vereador Daniel do Indea (PSDB), numa madrugada de julho de 2001. A partir daquele ano, um conjunto de fatores e uma série de denúncias de corrupção culminaram com a cassação do então prefeito Jaime Luiz Muraro, na época do PFL.
Antes daquela crise, Ladeia era ferrenho apoiador e aliado de Jaime Muraro (chegou a subir em palanque e pedir votos nas campanhas políticas do pefelista), quando ainda apresentava o programa “Rádio Revista”, na Rádio Tangará. Com a chegada da crise política, o radialista Júlio César mudou de lado e se transformou em crítico feroz, o que culminou com a sua demissão da emissora.
Ladeia, então, passou a apresentar um programa numa emissora de TV (RTS) – “Chicote do Povo” -, onde seguiu com as incisivas críticas à administração municipal da época. O programa representou um impulso na sua popularidade e, em 2004, Ladeia lançou-se candidato a prefeito pelo PL – Partido Liberal, com o apoio do empresário Adauton Tuim, líder do PMN – Partido da Mobilização Nacional.
Diante da crise política da época e das denúncias de corrupção no poder público, Júlio César empunhou a bandeira da “honestidade” e da “paz”. Defendia a honestidade no combate à corrupção e a paz como instrumento conciliador do ambiente político local.
Em outubro de 2004, massacrou seus adversários nas urnas, somando nada menos que 16.154 sufrágios, ou 44% dos votos válidos. Ladeia superou com facilidades seus concorrentes Clóvis da Elepar (PPS - então apoiado pelo governador Blairo Maggi – 9.719 votos), Fábio Junqueira (PFL - 5.708), o petista Zé Pequeno (que mais tarde viria a ser seu secretário de Administração – 2.980) e Thaís Barbosa (PMDB – 2.038).
Apesar da fraca administração, com o município sofrendo com estradas precárias no interior e a desorganização, abandono e sujeira na área urbana, Júlio César conseguiu se reeleger em outubro de 2008, obtendo 18.068 votos contra apenas 6.482 da segunda colocada, Azenate Fernandes de Carvalho, do PMDB. Olga Muraro, do DEM, somou 14.648 votos, mas teve votação anulada em razão da impugnação do registro de sua candidatura.
Com a cassação e as denúncias de atos de improbidade, Júlio César incorpora o estereótipo do político que surge das massas para desfrutar do poder na condição de “salvador da pátria” e que, por ingenuidade, imprudência e preciosismo, põe tudo a perder por achar que está acima de tudo e de todos. Exemplos como este não faltam pelos quatro cantos do país. A queda, nestes casos, é quase sempre irreparável. 

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