O nome científico é Ilex Paraguariensis. Para se tornar uma guampa, onde é tomado, o chifre é extraído do boi, ’esvaziado’, e fica enterrado na lama por uns 15 dias para acabar com as impurezas, e depois desse tempo ela está pronta para o uso. Por tradição, em uma roda, deve-se servi-lo em sentido anti-horário, devido ao movimento feito pelos laçadores. É. Estou falando do tereré, essa tradição cuja origem tem várias histórias e que se transformou numa tradição de final de tarde entre a galera jovem tangaraense, a exemplo de outros municípios mato-grossenses e sul-mato-grossenses.
A constituição da erva do tereré é de 50% de folhas e 50% de galhos da sua árvore, enquanto que o chimarrão é de 70% de folhas e 30% de galhos. A galera jovem de Tangará, em todos os finais de tarde forma rodas nas calçadas de praticamente todos os bairros, além da Avenida Brasil, onde a roda é acompanhada de som automotivo e muita alegria, transformando o tereré numa tradição jovem. O calor da região também é um grande chamariz para o consumo do tereré. O fato é que, em calçadas ou avenidas, as rodas de tereré são a marca da socialização juvenil destes últimos 25 anos.
Podemos tomar como exemplo uma reunião de posse de novos membros do Rotaract no ano passado, onde um condomínio foi bastante citado pelas rodas de tereré, onde aquela moçada se reúne e discute diversos temas; daí o conhecimento suficiente para receber o convite a integrar o clube de serviço, em sua versão jovem, demonstrando a força de socialização que essas rodas promovem diariamente.
Alguns preferem tomar esta bebida de origem paraguaia com água gelada apenas. Outros, com água e limão. Alguma ervas vêm saboriza-das com hortelã, limão, abacaxi, pêssego, cidreira e até catuaba com guaraná, sempre chamando a atenção para o teor de refrescância do sabor. E, por ser de fácil consumo e transporte, em qualquer lugar podemos ver uma dessas ‘rodinhas’. Na reunião sobre a precificação do frango, por exemplo, em que os avicultores se reuniram no estacionamento do frigorífico, alguns partiram para a tradição gaúcha do chimarrão, enquanto outros se deliciavam com tereré, na tradicional água pura gelada.
Nem mesmo o fato ocorrido no mês passado, quando um apreciador da erva encontrou um rato inteiro dentro de um pacote de erva, tirou a fama e o gosto por esse costume, ao mesmo tempo tradicional e renovado. Porém, a marca em questão (Kurupi), praticamente não é encon-trada nas prateleiras tanga-raenses, desde o ocorrido. Apenas um lote foi retirado do mercado, o 010/2010 e o encontro inesperado com o roedor (falecido) aconteceu em Barra do Bugres.
Em praticamente todos os supermercados pode ser encontrado por valores que vão dos R$ 3,50 aos R$ 7, dependendo da marca ou se é saborizada ou pura a sua erva. Hoje, há aquelas no pacote tradicional de papel, ou no saco plástico e até embaladas à vácuo. O maior produtor mundial da Ilex Paragua-riensis é a Argentina, sendo que o Brasil fica com a segunda colocação na produção da erva-mate. No Brasil, o maior produtor é o Sul do país, tendo sua base em pequenas propriedades, mas a erva pode ser encontrada em praticamente todo o país, deixando a marca desta interação à moda paraguaia/brasileira.
CARACTERÍSTICAS - Dife-rentemente do chimarrão, que é feito com água quente, o tereré é consumido com água fria, resultando em uma bebida agradável e refrescante. Em sua produção, a erva mate utilizada no preparo do tereré difere do chimarrão por ter de ficar em repouso por volta de oito meses, em local seco, e de ser triturada grossa depois disso. Devido ao fato das folhas serem cortadas grossas, ao contrário do chimarrão, o tereré não tem tantos problemas com o entupimento. Quando isso ocorre, geralmente é devido a uma grande quantidade de mate em pó, indicando má qualidade da erva usada.
Depois com a água mais gelada e a erva com menos folhas, o então tereré surgiu para deixar nossos dias mais refrescantes. Atualmente, tem um consumo muito grande entre os cowboys de rodeio e a moçada jovem. É com muita facilidade que se vê uma roda formada, principalmente durante o dia, na hora de descanso, para o prazeroso ritual de tomá-lo, que acaba sendo, às vezes, até o motivo para boas e novas amizades, além de ajudar a manter as já existentes.
O efeito estimulante da cafeína encontrada no mate usado no tereré, que exerce um poder energético conhecido sobre o sistema nervoso central, estimula o vigor mental no trabalho cardíaco e circulação do sangue.
Além de ser uma bebida muito estimulante, elimina a fadiga ativando as funções físicas e mentais, atuando beneficamente sobre os nervos e músculos, favorecendo também o trabalho intelectual. Talvez um dos motivos de ser altamente consumido entre os cowboys, além do seu efeito refrescante.
Com vitaminas do complexo B, a erva-mate participa do aproveitamento do açúcar nos músculos, nervos e atividade cerebral do homem. As vitaminas C e E agem como defesa orgânica e como benefício sobre os tecidos do organismo sais minerais, juntamente com a cafeína, ajudam o trabalho cardíaco e a circulação do sangue, diminuindo a tensão arterial, pois a cafeína atua como vasodilatador. Em tais situações, também pode ser suprida a sensação de fome.
A erva-mate favorece a diurese, sendo de grande utilidade em moléstias da bexiga. Atua também sobre o tubo digestivo, ativando os movimentos peristálticos; facilita a digestão, suaviza os embaraços gástricos, favorecendo a evacuação e a mictação. A sua ação estimulante é mais prolongada que a do café, não deixando efeitos colaterais ou residuais como irritabilidade e insônia.
Pesquisas do Instituto Pasteur de Paris atribuem também a esta erva um papel importantíssimo no processo de regeneração celular. Estudos indicam que os compostos que constituem a erva-mate são: água, celulose, gomas, dextrina, mucilagem, glicose, pentose, substâncias graxas, resina aromática, legumina, albumina, cafeína, teofilina, cafearina, cafa-marina, ácido mete-tânico, ácido fólico, ácido caféico, ácido virídico, clorofila, colesterina e óleo essencial.
A cafeína, teofilina e teobromina são três alcalóides estreitamente relacionados, encontrados nela e são os compostos mais interessantes sob o ponto de vista terapêutico. O teor de cafeína na erva atinge em média 1,60%, enquanto que nas infusões o valor médio é de 1,10%.
HISTÓRIA - Diz a lenda que durante a Guerra do Paraguai, os soldados de ambos os lados (Brasil e Paraguai), durante os tempos de folga entre um combate e outro, ou às vezes até mesmo em pleno combate, gostavam de tomar um chimarrão para repor os ânimos. Como o intervalo entre esses combates era muito curto, não havia tempo para esquentar a água, assim eles começaram a tomar frio e gostaram do sabor.
Já uma história mais verídica diz que o tereré (também pode-se pronunciar tererê) teria surgido na Guerra do Chaco (entre Paraguai e Bolívia, 1932-1935) quando as tropas começaram a beber mate frio para não acender fogos que denunciariam sua posição. O tereré se tornaria uma bebida popular no Paraguai mais recentemente, introduzida pelos soldados no quotidiano do país através da região do Chaco.
Outra versão da origem do tereré, diz respeito aos mensús (escravos ervateiros do nordeste do Paraguai e da Argentina, até meados do século XX), se eles fossem surpreendidos pelos capangas fazendo fogo para tomar mate seriam brutalmente torturados, por isso tomavam o mate frio. Presumivelmente por esta razão que estes mensús introduziram este costume no exército paraguaio, quando lá tiveram que servir, durante a guerra.
No entanto, crê-se que o tereré já era ingerido pelos índios Guarani, e existem relatos desde o século XVII onde alguns jesuítas aprenderam com eles as virtudes do mate (ka´a em guarani). Os mesmos jesuítas elogiaram os efeitos da erva, afirmando que este matava a sede melhor do que água pura. Segundo alguns, os índios Guarani não só tomam o mate (ou tereré), mas também a erva em infusão (como chá) e também fumam a erva bruta, como rapé.
No Brasil, o tereré foi trazido pelos paraguaios, que entraram pelo país através do estado do Mato Grosso do Sul e depois se espalhou para outras partes do mesmo. Todo o ciclo brasileiro da erva-mate do tereré teve início na cidade de Ponta Porã, que faz fronteira com Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia, depois expandiu-se para outras cidades e estados.
CURIOSIDADES SOBRE A BEBIDA
O ritual de preparo do tereré varia de acordo com a região onde é consumido. Uma das maneiras mais utilizadas é a seguinte:
1. Coloca-se a erva-mate na guampa até aproximadamente 2/3 da sua capacidade.
2. Tapando a boca da guampa com a mão, procura-se através de leves movimentos, para cima e para baixo, separar, os talos e palitos da erva propriamente dita.
3. Inclina-se a guampa mais ou menos 45º e retira-se a mão, fazendo com que os palitos da erva fiquem na parte inferior, formando uma trama que facilitará a entrada da água na peneira da bomba.
4. Na mesma posição anterior, despeja-se a água gelada.
5. A colocação da bomba é um momento decisivo no preparo de um bom tereré. Tapando-se o bocal com o polegar, introduz-se a bomba no lado cheio de água da guampa, até o fundo. Com movimentos de pulso, procura-se a melhor posição para que ela fique firme. Retira-se o polegar e observa-se o nível da água, que deve baixar alguns centímetros. Isto prova que o tereré está desentupido.
6. Com a guampa já na posição vertical, coloca-se a água gelada.
7. O tereré está pronto. O primeiro mate já pode ser ingerido, embora boa parte dos mateadores prefira cuspir fora. Isso porque no primeiro mate a bomba retém resíduos de pó da erva, fazendo com que não seja o mais saboroso.
OS 10 MANDAMENTOS DO TERERÉ
1. Não cuspa o tereré.
2. Não mexa na bomba.
3. Nunca colocar açúcar na água.
4. Não diga que o tereré é anti-higiênico.
5. Não deixe um tereré pela metade.
6. Não se envergonhe do "ronco" no fim do tereré.
7. Jamais chamar uma guampa de cuia.
8. Não altere a ordem em que o tereré é servido.
9. Não "durma" (demore) com a guampa na mão.
10.Tome tereré todos os dias.
Luciana Menoli
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